quarta-feira, 2 de abril de 2008

Ética e Liberdade



Por muito tempo, séculos, milênios, um assunto vem sendo debatido. Seja no meio filosófico, sociológico, ou mesmo dentro de uma conversa convencional, ou banal. O que é liberdade, ou melhor, somos animais livres, ou, ainda mais, existe essa tal liberdade?


Dentro dos parâmetros e valores espalhados pela Revolução Francesa (ou, em qualquer tipo de revolução), o homem (entenda-se Ser-humano) precisa de um lugar ao sol e de ar puro a respirar, sentir a liberdade – Liberté, Fraternité, Igualité – mas alem de tudo, o homem precisa ter a liberdade para escolher seu próprio destino. Ter a chance e a oportunidade de ascender dentro de uma sociedade. Contemporaneamente, essa mesma revolução contaminou outras nações. Junto à ideais nascentes dos britânicos, independências foram proclamadas e escravos libertados. O homem ganhava sua liberdade.


Mas ao mesmo tempo, se tornava mais uma vez escravo. Preso aos problemas sociais de um novo sistema que era absolutamente seletivo. Emergia, então, diversos tipos de sentimentos comuns de antigamente: o anti-semitismo; o nacionalismo; o bairrismo. E mais uma vez o homem se revoltou. Guerras foram travadas. Guerras foram vencidas. Outras surgiam. E a busca à liberdade deu margem a outro sentimento: o medo. Mas uma vez, o homem se escravizou.


O medo da destruição, do holocausto nuclear, tudo isso criou um clima para “mandos” e “desmandos” dos que estavam no poder, pois estes, também tinham medo. O tempo foi passando e o “bom-senso” imperando. Muros e fronteiras foram derrubados, e chegamos ao mundo contemporâneo.


Sartre uma certa vez disse, “O homem está condenado à Liberdade”. Mas convém voltarmos ao começo do texto e nos perguntar: “O que é liberdade”.


Steven Pinker, em seu artigo entitulado “Sobre Santos e Demônios” disserta sobre a variedade do conceito de Moral. O que o valor social ensina que é certo para o seu filho, o que você ensina de bom valor à sua filha. Por mais que se trabalhe em cima desses valores, sempre haverá algum momento em que perguntas irão ecoar na cabeça desse ser-humano. “Mas por que não posso fazer isso”. Tudo bem que não é normal a maioria das pessoas se perguntarem isso. Mas aquele que possuem a vontade se sentirem verdadeiramente livres procurarão o máximo em oportunidades de viver.


Quando Pinker fala sobre as “Ilusões Morais” ele desmistifica toda uma visão criada por uma cultura imposta que identifica e taxa pessoas. Quem é do Bem, quem é do Mal. Hoje, o Bem e o Mal são conceitos muito mais complexo que a própria liberdade. Por isso, nos concentremos na Liberdade.


Com a afirmativa de Sartre, o estudo da história, a leitura dos artigos de Steven Pinker e de Slavoj Zizek (A falha da Bio-ética) constatamos que, embora sempre procure a liberdade, esse lugar ao sol, o homem nunca o será. Poderá, por pouco tempo sentir-se livre, mas em pouco tempo, ele acharia algo a se atrelar, a servir e a se limitar. Liberdade, ao ponto da palavra é fazer o que bem quer e o que bem entende. Porém, não há como sê-lo. Um antigo ditado resume toda essa “vã filosofia”: A sua liberdade acaba quando começa a do seu próximo.


Assim como todo animal, o ser-humano procura atingir o topo, seja ele qual a sua sociedade eleger como. E para não acontecer como na própria natureza, o próprio homem vai delimitar um espaço, para se auto-proteger. Os psicólogos já atentam para isso. A auto-defesa, o interrelacionamento entre ID, Ego e Super-ego. Tudo isso mostra um mecanismo de auto-inibição, cultivo e castração de prazeres por sobrevivência social. Desde sempre (quando nascemos) somos treinados a ter um tipo de visão. A educação dos pais, dos colégios, das babas, do meio, tudo isso vai influenciar no futuro cidadão.


Com o desenvolvimento da ciência, já é possível fazer manipulações genéticas que “farão” o filho da maneira que o consumidor quiser, como alerta o artigo “A falha da Bio-ética” de Slavoj Zizek. Os filhos já poderão vir no “formato” que seus pais quiserem. Ou seja, é “algemado” mesmo antes de nascer às vontades dos pais.


Talvez Sartre esteja certo em sua afirmação em que diz que “O homem está condenado à liberdade”. Mas porque o ser-humano sempre busca por ela, essa incansável luta contra correntes. Um dia, talvez o homem seja realmente livre, assim como deseja o filósofo. Mas por enquanto, vivemos presos a valores, éticas, culturas, costumes e à própria ideia de Liberdade.


Por Renan de Andrade

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